A
serra de João do vale tem sido nos últimos meses um reduto de procura para a
compra de terrenos por parte de comerciantes, profissionais liberais,
empresários e até mesmo políticos. A procura coincide com a construção da
ladeira no sentido de Jucurutu que dá acesso a comunidade e nesse sentido
facilita o deslocamento e reduz o tempo de percurso.
A
procura pela serra é uma aposta de valorização em curto prazo, onde quem tem
recursos procura de alguma maneira tirar proveito. Quanto à parte de Triunfo
Potiguar, resta apenas esperar que um dia ao acaso alguma autoridade se lembre
da existência dessa outra parte, por sinal mais bonito ainda.
Apesar
das dificuldades que ainda permanecem para se chegar a minha terrinha, todo o
sacrifício recompensa diante da espera de um clima agradável e de fazer inveja.
O tempo e o clima dá a impressão literalmente de que parou e a vontade de
dormir é quase sempre a melhor pedida para os que já conhecem.
A
comunidade que até dez ou quinze anos atrás usava lampiões, faróis e lamparinas
deu lugar à energia elétrica. A água que antes era um bem escasso, agora se
tornou mais acessível com a implantação de chafarizes e construção de
cisternas. Yes, trocamos a lama pela água, temos parabólicas, internet e
celular.
As
casas de taipas, infelizmente, ainda existem. A grande parte da população que
quase sempre era vista como “Índio” agora já pode ser chamada de boas pessoas e
até de hospitaleiros pelos antigos preconceituosos. Ser filho da terra agora
parece ser uma febre, se não por nascimento, abrace-a por adoção. O homem rude
que usava faca nos quartos deu lugar à modernidade das cidades e a substituiu
por brincos e boinas. O velho jumento e cavalo são raros, a pedida agora é uma
moto. A modernidade aos poucos chega e precisa somente olhar para o lado e ver,
que de fato melhoramos na parte de infraestrutura, agora já somos vistos com
melhores olhos e podemos dizer a todos que no campo político também podemos
decidir o futuro do município. Todos nos querem como vices em suas chapas e o
que para muitos era uma antiga tribo, hoje já se chamam de paraíso. Como o
tempo muda.
Mas
existe uma preocupação que parece passar alheia aos olhos das autoridades e da
própria comunidade que ver na venda de parte ou total dos seus terrenos uma
solução para parte de seus problemas financeiros.
Da venda desordenada de terrenos sem
escrituras, termos de posse tudo é válido, não sendo convincente e recomendável
fazer projeções para um futuro moderno que pode se transformar numa triste
realidade.
O grande problema disso tudo é o risco
de em pouco tempo nos tornarmos estranhos em nossa própria terra, perder nossas
raízes e nossa cultura. Espero não me sentir um dia com meu olhar vago e
perdido na imensidão de um paraíso que nos foi dado de graça e que vendemos,
não apenas nossas terras, mas nossa identificação.
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