terça-feira, 25 de setembro de 2012

Serra de João do Vale - De paraíso a preocupação.





A serra de João do vale tem sido nos últimos meses um reduto de procura para a compra de terrenos por parte de comerciantes, profissionais liberais, empresários e até mesmo políticos. A procura coincide com a construção da ladeira no sentido de Jucurutu que dá acesso a comunidade e nesse sentido facilita o deslocamento e reduz o tempo de percurso.

A procura pela serra é uma aposta de valorização em curto prazo, onde quem tem recursos procura de alguma maneira tirar proveito. Quanto à parte de Triunfo Potiguar, resta apenas esperar que um dia ao acaso alguma autoridade se lembre da existência dessa outra parte, por sinal mais bonito ainda.

Apesar das dificuldades que ainda permanecem para se chegar a minha terrinha, todo o sacrifício recompensa diante da espera de um clima agradável e de fazer inveja. O tempo e o clima dá a impressão literalmente de que parou e a vontade de dormir é quase sempre a melhor pedida para os que já conhecem.

A comunidade que até dez ou quinze anos atrás usava lampiões, faróis e lamparinas deu lugar à energia elétrica. A água que antes era um bem escasso, agora se tornou mais acessível com a implantação de chafarizes e construção de cisternas. Yes, trocamos a lama pela água, temos parabólicas, internet e celular.

As casas de taipas, infelizmente, ainda existem. A grande parte da população que quase sempre era vista como “Índio” agora já pode ser chamada de boas pessoas e até de hospitaleiros pelos antigos preconceituosos. Ser filho da terra agora parece ser uma febre, se não por nascimento, abrace-a por adoção. O homem rude que usava faca nos quartos deu lugar à modernidade das cidades e a substituiu por brincos e boinas. O velho jumento e cavalo são raros, a pedida agora é uma moto. A modernidade aos poucos chega e precisa somente olhar para o lado e ver, que de fato melhoramos na parte de infraestrutura, agora já somos vistos com melhores olhos e podemos dizer a todos que no campo político também podemos decidir o futuro do município. Todos nos querem como vices em suas chapas e o que para muitos era uma antiga tribo, hoje já se chamam de paraíso. Como o tempo muda.

Mas existe uma preocupação que parece passar alheia aos olhos das autoridades e da própria comunidade que ver na venda de parte ou total dos seus terrenos uma solução para parte de seus problemas financeiros.

Da venda desordenada de terrenos sem escrituras, termos de posse tudo é válido, não sendo convincente e recomendável fazer projeções para um futuro moderno que pode se transformar numa triste realidade.

O grande problema disso tudo é o risco de em pouco tempo nos tornarmos estranhos em nossa própria terra, perder nossas raízes e nossa cultura. Espero não me sentir um dia com meu olhar vago e perdido na imensidão de um paraíso que nos foi dado de graça e que vendemos, não apenas nossas terras, mas nossa identificação.


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