Evangelho (João 1,47-51)
Sábado, 29 de Setembro de 2012
S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 47Jesus viu Natanael que vinha para ele e comentou: “Aí vem um israelita de verdade, um homem sem falsidade”. 48Natanael perguntou: “De onde me conheces?” Jesus respondeu: “Antes que Filipe te chamasse, enquanto estavas debaixo da figueira, eu te vi”. 49Natanael respondeu: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel”.50Jesus disse: “Tu crês porque te disse: “Eu te vi debaixo da figueira? Coisas maiores que esta verás!” 51E Jesus continuou: “Em verdade, em verdade eu vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 47Jesus viu Natanael que vinha para ele e comentou: “Aí vem um israelita de verdade, um homem sem falsidade”. 48Natanael perguntou: “De onde me conheces?” Jesus respondeu: “Antes que Filipe te chamasse, enquanto estavas debaixo da figueira, eu te vi”. 49Natanael respondeu: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel”.50Jesus disse: “Tu crês porque te disse: “Eu te vi debaixo da figueira? Coisas maiores que esta verás!” 51E Jesus continuou: “Em verdade, em verdade eu vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
Celebramos
a festa dos três Arcanjos que a sagrada Escritura menciona pelo seu nome
próprio: Miguel, Gabriel e Rafael. Mas, o que é um anjo? A sagrada Escritura e
a tradição da Igreja fazem-nos descobrir dois aspectos.
Por
um lado, o Anjo é uma criatura que está diante de Deus, orientada, com todo o
seu ser para Deus. Os três nomes da festa dos três Arcanjos que a sagrada
Escritura menciona pelo seu nome próprio: Miguel, Gabriel e Rafael. Mas, o que
é um anjo? A sagrada Escritura e a tradição da Igreja fazem-nos descobrir dois
aspectos. Os Arcanjos terminam com a palavra "El", que significa
"Deus". Deus está inscrito nos seus nomes, na sua natureza. A sua
verdadeira natureza é a existência em vista d'Ele e para Ele.
Explica-se
precisamente assim também o segundo aspecto que caracteriza os Anjos: eles são
mensageiros de Deus. Trazem Deus aos homens, abrem o céu e assim abrem a terra.
Exatamente porque estão junto de Deus, podem estar também muito próximos do
homem. De fato, Deus é mais íntimo a cada um de nós de quanto o somos nós
próprios.
Como
um anjo para os outros
Os
Anjos falam ao homem do que constitui o seu verdadeiro ser, do que na sua vida
com muita frequência está velado e sepultado. Eles chamam-no a reentrar em si
mesmo, tocando-o da parte de Deus. Neste sentido também nós, seres humanos,
deveríamos tornar-nos sempre de novo anjos uns para os outros anjos que nos
afastam dos caminhos errados e nos orientam sempre de novo para Deus.
Se
a Igreja antiga chama os Bispos "anjos" da sua Igreja, pretende dizer
precisamente o seguinte: “os próprios Bispos devem ser homens de Deus, devem
viver orientados para Deus”. "Multum orat pro populo" "Reza
muito pelo povo", diz o Breviário da Igreja a propósito dos santos Bispos.
O Bispo deve ser um orante, alguém que intercede pelos homens junto de Deus.
Quanto mais o fizer, tanto mais compreende também as pessoas que lhe estão
confiadas e pode tornar-se para elas um anjo um mensageiro de Deus, que as
ajuda a encontrar a sua verdadeira natureza, a si mesmas, e a viver a ideia que
Deus tem delas.
São
Miguel: dar lugar a Deus no mundo
Tudo
isto se torna ainda mais claro se olharmos agora para as figuras dos três
Arcanjos cuja festa a Igreja celebra hoje. Antes de tudo está Miguel.
Encontramo-lo na Sagrada Escritura, sobretudo no Livro de Daniel, na Carta do
Apóstolo São Judas Tadeu e no Apocalipse. Deste Arcanjo tornam-se evidentes
nestes textos duas funções. Ele defende a causa da unicidade de Deus contra a
soberba do dragão, da "serpente antiga", como diz João. É a perene
tentativa da serpente de fazer crer aos homens que Deus deve desaparecer, para
que eles se possam tornar grandes; que Deus é um obstáculo para a nossa
liberdade e que por isso devemos desfazer-nos dele.
Mas
o dragão não acusa só Deus. O Apocalipse chama-o também "o acusador dos
nossos irmãos, que os acusava de dia e de noite diante de Deus" (12, 10).
Quem põe Deus de lado, não enobrece o homem, mas priva-o da sua dignidade.
Então o homem torna-se um produto defeituoso da evolução. Quem acusa Deus,
acusa também o homem. A fé em Deus defende o homem em todas as suas debilidades
e insuficiências: o esplendor de Deus resplandece sobre cada indivíduo.
É
tarefa do Bispo, como homem de Deus, fazer espaço para Deus no mundo contra as
negações e defender assim a grandeza do homem. E o que se poderia dizer e
pensar de maior sobre o homem a não ser que o próprio Deus se fez homem? A outra
função de Miguel, segundo a Escritura, é a de protetor do Povo de Deus (cf.
Dn10, 21; 12, 1). Queridos amigos, sede verdadeiramente "anjos da
guarda" das Igrejas que vos serão confiadas! Ajudai o povo de Deus, que
deveis preceder na sua peregrinação, a encontrar a alegria na fé e a aprender o
discernimento dos espíritos: a acolher o bem e a recusar o mal, a permanecer e
tornar-se sempre mais, em virtude da esperança da fé, pessoas que amam em
comunhão com Deus-Amor.
São
Gabriel: Deus que chama
São
Gabriel
Encontramos
o Arcanjo Gabriel, sobretudo na preciosa narração do anúncio a Maria da
encarnação de Deus, como nos refere São Lucas (1, 26-38). Gabriel é o
mensageiro da encarnação de Deus. Ele bate à porta de Maria e, através dela, o
próprio Deus pede a Maria o seu "sim" para a proposta de se tornar a
Mãe do Redentor: dar a sua carne humana ao Verbo eterno de Deus, ao Filho de
Deus.
Repetidas
vezes o Senhor bate às portas do coração humano. No Apocalipse diz ao
"anjo" da Igreja de Laodiceia e, através dele, aos homens de todos os
tempos: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a Minha voz e abrir
a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele" (3, 20). O Senhor está à
porta, à porta do mundo e à porta de cada um dos corações. Ele bate para que o
deixemos entrar: a encarnação de Deus, o seu fazer-se carne deve continuar até
ao fim dos tempos.
Todos
devem estar reunidos em Cristo num só corpo: dizem-nos isto os grandes hinos
sobre Cristo na Carta aos Efésios e na Carta aos Colossenses. Cristo bate.
Também
hoje Ele tem necessidade de pessoas que, por assim dizer, lhe põem à disposição
a própria carne, que lhe doam a matéria do mundo e da sua vida, servindo assim
para a unificação entre Deus e o mundo, para a reconciliação do universo.
Queridos
amigos, compete-vos bater à porta dos corações dos homens, em nome de Cristo.
Entrando vós mesmos em união com Cristo, podereis também assumir a função de
Gabriel: levar a chamada de Cristo aos homens.
São
Rafael: recobrar a vista
São
Rafael é-nos apresentado, sobretudo no Livro de Tobias como o Anjo ao qual é
confiada a tarefa de curar. Quando Jesus envia os seus discípulos em missão,
com a tarefa do anúncio do Evangelho está sempre ligada a de curar. O bom
Samaritano, acolhendo e curando a pessoa ferida que jaz à beira da estrada,
torna-se silenciosamente uma testemunha do amor de Deus. Este homem ferido, com
necessidade de curas, somos todos nós. Anunciar o Evangelho, já em si é curar,
porque o homem precisa sobretudo da verdade e do amor.
Do
Arcanjo Rafael é referido no Livro de Tobias duas tarefas emblemáticas de cura.
Ele cura a comunhão importunada entre homem e mulher. Cura o seu amor. Afasta
os demónios que, sempre de novo, rasgam e destroem o seu amor. Purifica a atmosfera
entre os dois e confere-lhes a capacidade de se receberem reciprocamente para
sempre. Na narração de Tobias esta cura é referida com imagens legendárias.
No
Novo Testamento, a ordem do matrimónio, estabelecido na criação e ameaçado de
muitas formas pelo pecado, é curado pelo facto de que Cristo o acolhe no seu
amor redentor. Ele faz do matrimónio um sacramento: o seu amor, que por nós
subiu à cruz, é a força restauradora que, em todas as confusões, dá a
capacidade da reconciliação, purifica a atmosfera e cura as feridas. Ao
sacerdote é confiada a tarefa de guiar os homens sempre de novo ao encontro da
força reconciliadora do amor de Cristo. Deve ser o "anjo" curador que
os ajuda a ancorar o seu amor no sacramento e a vivê-lo com empenho sempre
renovado a partir dele.
Em
segundo lugar, o Livro de Tobias fala da cura dos olhos cegos. Todos sabemos
quanto estamos hoje ameaçados pela cegueira para Deus. Como é grande o perigo
de que, perante tudo o que sabemos sobre as coisas materiais e que somos
capazes de fazer com elas, nos tornamos cegos para a luz de Deus.
Curar
esta cegueira mediante a mensagem da fé e o testemunho do amor, é o serviço de
Rafael confiado dia após dia ao sacerdote e de modo especial ao Bispo. Assim,
somos espontaneamente levados a pensar também no sacramento da Reconciliação,
no sacramento da Penitência que, no sentido mais profundo da palavra, é um
sacramento de cura. A verdadeira ferida da alma, de facto, o motivo de todas as
outras nossas feridas, é o pecado. E só se existe um perdão em virtude do poder
de Deus, em virtude do poder do amor de Cristo, podemos ser curados, podemos
ser remidos.
"Permanecei
no meu amor", diz-nos hoje o Senhor no Evangelho (Jo 15, 9). No momento da
Ordenação episcopal Ele di-lo de modo particular a vós, queridos amigos.
Permanecei no seu amor! Permanecei naquela amizade com Ele cheia de amor que
Ele neste momento vos doa de novo! Então a vossa vida dará fruto um fruto que
permanece (Jo 15, 16).
Benedicto
XVI, fragmentos de uma homilia pronunciada a 29 de septembro de 2007.